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Tipo de Mídia:
Texto
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Formato:
.pdf
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Tamanho:
1,77
MB
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Título: |
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O discurso do especialista sobre o lugar dos pais na clínica do autismo |
Autor: |
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Juliana Cáu Durante
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Categoria: |
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Teses e Dissertações |
Idioma: |
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Português |
Instituição:/Parceiro |
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[cp] Programas de Pós-graduação da CAPES
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Instituição:/Programa |
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UFPE/LETRAS |
Área Conhecimento |
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LINGÜÍSTICA |
Nível |
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Mestrado
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Ano da Tese |
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2007 |
Acessos: |
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337 |
Resumo |
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O presente trabalho tem por objetivo analisar o discurso do “especialista” sobre o lugar dos
pais na clínica do autismo, enfocando a etiologia e o tratamento. Durante décadas as práticas
discursivas construídas sobre o lugar dos pais foram circunscritas e definidas em torno de um
debate dicotômico a respeito da própria gênese do autismo, impulsionado pelo psiquiatra Leo
Kanner, quando da publicação de seu artigo inicial de 1943, intitulado “Distúrbios autísticos
de contato afetivo”. De um lado, encontra-se a psicogênese, que apoiada pelo discurso da
psicanálise, atribui uma causa de origem psíquica ao problema, o que por muito tempo
colocou os pais num lugar de responsabilização culpabilizante frente ao sofrimento do filho;
de outro lado, a organogênese que, uma vez apoiada pelo discurso médico/biológico, atribui
uma causa de origem orgânica ao autismo, isentando os pais de qualquer tipo de
responsabilização frente ao sofrimento do filho. Foram aqui analisados os “depoimentos” de
quatorze profissionais que compõem a equipe do CPPL – instituição psicanalítica do Recife
que há vinte e cinco anos trabalha com questões ligadas ao desenvolvimento de crianças e
jovens em sofrimento psíquico, dentre as quais, aquela que convencionou-se denominar de
“autismo”. Apoiados em teorizações do psicanalista Donald Winnicott (1997a) a respeito do
“equivocado” conceito e diagnóstico de “autismo”, estes profissionais, a partir das práticas
clínicas por eles desenvolvidas, passaram a assumir (CAVALCANTI; ROCHA, P.S., 2001)
um posicionamento crítico que desconstrói tal conceito diagnóstico, dado os efeitos
iatrogênicos que o mesmo ocasiona no tratamento e na própria relação pais-filhos. Assim,
investigou-se quais os efeitos de sentido produzidos em suas práticas discursivas, entendidas
como formas de ação, a respeito do lugar de responsabilidade posto sobre os pais, ao
assumirem tal posicionamento crítico e inovador frente ao diagnóstico de autismo. Os corpora
foram descritos, analisados e interpretados à luz dos pressupostos teórico-metodológicos da
Filosofia da Linguagem do Círculo de Bakhtin (2003; 2004; entre outros); da Análise do
Discurso Francesa (MAINGUENEAU, 2005) e do Método de Análise Lexical, Textual e
Discursivo de Camlong (1996). Os resultados sugerem que, tais profissionais dialogam e
reafirmam em seus discursos, construções de sentido que remetam ao caráter mutável e
adjetivo de “estar” em sofrimento psíquico, desconstruindo, de modo compartilhado, sentidos
que apontem para a fixidez e imutabilidade que o conceito de autismo impõe aos indivíduos
assim descritos. Podemos concluir que, uma vez abandonado e desconstruído os pré-conceitos
teóricos que falam das “impossibilidades” que tal “categoria identitária” impõe a tais
indivíduos, abre-se um leque de “possibilidades” e de novas construções de sentido que
permitem que tais sujeitos possam voltar a ser definidos dentro da dimensão subjetivante de
“seres humanos”. Um movimento discursivo de transformação plural, descrito pela presença
da memória discursiva de “outros”, no interior de tais práticas, devolveu aos pais, agora
colocados na posição de implicados no sofrimento do filho, a capacidade de cuidar,
construindo, assim, novas, múltiplas e heterogêneas formas de redescrição, resituando-os, de um lugar de responsabilidade pela via da culpa, em um lugar de responsabilidade pela via do
cuidado.
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